A Editora Ática e a Coleção Vaga-Lume
A ideia da Coleção Vaga-Lume surgiu a partir de uma necessidade
educacional e cultural do Brasil nos anos 1970: a carência de
literatura nacional voltada para o público infantojuvenil que fosse,
ao mesmo tempo, atraente e acessível aos estudantes. Na década de
1970, o sistema educacional brasileiro estava em expansão, com um
número crescente de escolas e alunos. A Editora Ática percebeu uma
oportunidade: muitos professores usavam clássicos da literatura
estrangeira ou obras mais adultas, que não dialogavam bem com os
jovens leitores. Foi então que decidiu investir em uma coleção
nacional, que estimularia o gosto pela leitura nos jovens,
aproveitaria autores brasileiros, incentivando a produção local e
teria enredos envolventes, com aventura, mistério, ação e temas
contemporâneos.
A ideia foi colocada em prática por
editores e pedagogos da própria Editora Ática, que selecionaram
autores brasileiros (alguns já conhecidos, outros iniciantes) e os
convidaram a escrever livros com linguagem simples e direta, tramas
instigantes, personagens com os quais os jovens pudessem se
identificar e tivessem uma extensão compatível com a leitura
escolar (livros curtos ou médios).
O primeiro livro
publicado foi “A Ilha Perdida” de Maria José Dupré, em 1973 —
escolhido por já ser um livro bem-sucedido entre educadores, mas que
ganhou nova projeção ao ser relançado com o selo da Vaga-Lume. O
nome vaga-lume foi escolhido como símbolo por representar a luz na
escuridão, uma metáfora para o conhecimento que a leitura traz. A
imagem do inseto iluminado combinava com o público infantojuvenil e
dava um toque lúdico à proposta da coleção.
O logo foi criado pelo quadrinhista Carlos Eduardo Pereira, inspirado no movimento hippie dos anos 1960, representava leveza, paz e proximidade com o público jovem. O nome da coleção aparecia em letras grandes na parte superior da capa, geralmente acompanhado do desenho do vaga-lume. Abaixo, dentro de um quadrado central, havia a ilustração da história com destaque de cores variadas conforme o título. Em diversas reformulações gráficas (anos 80, 90 e 2008), o mascote e o logo mudaram de aparência, mas sempre mantiveram o identidade visual: o vaga-lume + o uso de verniz ou elementos destacados — como as edições comemorativas que brilhavam no escuro.
A Coleção Vaga-Lume destacou muitos autores nacionais, dentre eles, Marcos Rey, um dos principais nomes da coleção. É autor de títulos como “O Mistério do Cinco Estrelas”, “O Rapto do Garoto de Ouro” e “Um Cadáver Ouve Rádio”; Maria José Dupré, autora de “Éramos Seis” (incluído na coleção posteriormente); Lúcia Machado de Almeida, com obras como “O Escaravelho do Diabo” e “Spharion”; e mais Ilka Brunhilde Laurito, Carlos de Andrade, Stella Carr, Antônio Schimeneck e outros também participaram.
A coleção chegou a vender mais de 80 milhões de exemplares e foi adotada em milhares de escolas. “O Escaravelho do Diabo” virou filme em 2016. Outros títulos também foram adaptados para teatro e TV. A coleção foi relançada algumas vezes, com capas novas, mas sempre mantendo os clássicos originais. Muitos escritores brasileiros de literatura infantojuvenil de hoje dizem ter sido leitores ávidos da coleção.

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